Camp Nou recebeu mais de 91 mil pessoas para o jogo entre Barcelona e Real Madrid pela Liga dos Campeões Feminina.
Noventa e uma mil pessoas. Havia 91 mil pessoas assistindo Barcelona e Real Madrid no Camp Nou. O número seria absurdamente alto se estivéssemos falando de uma final da Liga dos Campeões masculina.
Mas não era final, não era semifinal e muito menos masculina. As 91 mil pessoas estavam no estádio para ver os times femininos de Barça e Real em campo. É uma marca histórica para o futebol feminino, esse esporte tão maltratado, estigmatizado e marginalizado.
Eu cresci num Brasil que proibia, por lei, mulher de jogar bola. Depois, mesmo quando a lei caiu, uma mulher que jogasse bola tinha que enfrentar uma série de barreiras erguidas pela misoginia, pelo machismo e pela LGBTfobia. Jogar profissionalmente então era aventura para as grandes guerreiras. Nossa sorte é que elas existiram e lutaram por uma sociedade na qual um dos maiores estádios do mundo chega a reunir quase 100 mil pessoas para ver um jogo de quartas de final de campeonato europeu.
O mundo muda. Demora, muita gente não chega a ver o resultado da luta, mas ele muda. E ele seguirá girando até que um dia nenhum ser humano precise enfrentar opressões e humilhações por causa de seu gênero, seu sexo, sua sexualidade, sua pele, sua classe. A luta é todo dia, é extenuante, é, por vezes, dilacerante. Mas as vitórias são também inúmeras e nesse 30 de março a gente teve uma vitória dessas grandes e retumbantes.